Eliana Maria Nigro Rocha

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Questões - Causas





Nome ou iniciais: Luiz Valentim
Cidade/Estado: Goiania/GO
Profissão: Diagramador
Pessoa que gagueja: sim
Familiar de pessoa que gagueja: não

Dúvida: Já li artigos que diziam que a pessoa que gagueja disperdiça muito "ar" ao falar, até que ponto isso é verdade, e como usar o "ar" na medida certa sem causar cansaço naqueles dias em a fala está menos fluente. Luiz Valentim

Resposta:

Luiz,

Gostaria de lhe fornecer uma resposta curta e objetiva que resolvesse sua dificuldade, mas sua questão é complexa e vou precisar me alongar um pouco.

Eu evito definir qualquer fato relacionado à gagueira como “verdade”, porque na prática o que encontramos são características individuais, que podem ser muito diversas das consideradas usuais. No entanto, constato que, nas pessoas que gaguejam, é muito comum encontrarmos alterações na área da coordenação respiratória embora estas alterações possam se mostrar de modo muito variado.

Existe um equilíbrio necessário entre a emissão vocal e o ar que é utilizado para tal. Desperdiçar o ar pode significar não conseguir utilizar adequadamente o volume aéreo para manter uma comunicação eficaz, precisando interromper repetidamente a emissão para tornar a inspirar. Pode significar ainda emitir os sons com uma quantidade mínima do ar inspirado, e expirar o ar restante antes ou após a emissão. No descompasso entre a fonação e a articulação, muito ar pode estar sendo expelido e faltar quando a emissão efetivamente ocorrer.

A questão respiratória no geral é tão evidente na pessoa que gagueja que temos os conhecidos conselhos dos leigos na área, que recomendam que se respire fundo antes de falar, o que costuma ter consequências desastrosas, pois pode dar origem a um mecanismo a mais de tensão na fala, desorganizando intensamente a emissão.

Temos ainda que algumas terapias centraram-se nesta questão, para constatar posteriormente que gagueira é muito mais que uma mera dificuldade respiratória durante a fonação.

Assim Luiz, o que posso lhe dizer sobre como usar o ar na medida certa, é que este é um aprendizado que precisa ser individualizado, uma vez que a alteração respiratória que traz cansaço nos dias em que a fala está menos fluente pode ser decorrência de outros fatores como: tensão corporal aumentada, postura corporal inadequada, respiração superior com consequente diminuição do volume de ar inspirado, má utilização do potencial respiratório na fala, fala sem interrupções para repor o ar expelido, utilização do ar além do limite natural da expiração e outros. Dificultando um pouco mais a análise, temos que estas alterações podem ser decorrentes de dificuldades psicomotoras de base, couraças musculares criadas, reações fisiológicas ao stress da comunicação ou mesmo um hábito inadequado.

Só um trabalho conjunto entre o terapeuta e o paciente pode ir clareando as percepções e deixando aflorar as questões verdadeiras que ocorrem.

Minha sugestão, caso você não tenha possibilidade de iniciar um processo terapêutico com um fonoaudiólogo especializado em fluência, é que você invista em conhecer seu corpo, que você busque por atividades que propiciem maior contato com esta máquina fabulosa que somos nós, atentando ao fato de que as emoções interferem profundamente em seu funcionamento.



Nome ou iniciais: Marisa Azevedo
Cidade/Estado: São Paulo/SP
Profissão: Estudante de Fonoaudiologia
Pessoa que gagueja: não
Familiar de pessoa que gagueja: não


Dúvida: Para começar o tratatamento da gagueira é preciso fundamentalmente saber a causa, já que como foi escrito acima: "A terapia fonoaudiológica deve levar em consideração todas estas possíveis causas para definir suas condutas e também para tentar estabelecer um prognóstico."? E se o tratamento é muito variável para as diversas causas?

Resposta:

Sim, Marisa, para iniciar a terapia de gagueira eu considero importante realizar logo no principio a tradicional diferenciação básica entre os quadros neurogênico (gagueira neurogênica), psíquico (gagueira psicogênica), taquifemia e gagueira do desenvolvimento. A história do paciente e a observação de sua fala são a principal fonte de dados para esta diferenciação.

Parto do princípio de que cada indivíduo deverá ter sua terapia específica adaptada às suas dificuldades, limites e possibilidades. Mas, considerando de um modo mais global, as terapias destes quadros citados diferem em alguns pontos básicos.

Na gagueira neurogênica, será necessário dialogar com o neurologista que acompanha o caso, enquanto que na gagueira psicogênica nosso interlocutor será o psiquiatra/psicanalista ou psicólogo que dá suporte aos aspectos emocionais do paciente. Os dados que eles nos fornecem serão de grande auxílio para entender melhor o mecanismo deflagrador e mantenedor do quadro e para nos permitir desenvolver uma abordagem que considere as limitações neurológicas/psíquicas deste indivíduo.

Via de regra, quando temos causas neurológicas e psíquicas de base, o prognóstico dependerá, além do trabalho realizado pelo fonoaudiólogo, da evolução benigna dos fatores que causaram esta gagueira. Deste modo o prognóstico pode ser mais reservado, dependendo do mecanismo ou estrutura afetada.

Quanto à taquifemia e gagueira do desenvolvimento já temos uma literatura mais extensa nos dizendo dos diferentes enfoques nos dois quadros, sendo que para a gagueira do desenvolvimento temos uma variedade de estudos, de modo que a escolha terapêutica da abordagem se dará de acordo com o embasamento com o qual o profissional se identifica.

Embora teoricamente todos estes quadros sejam tão diversos, na prática nem sempre sua diferenciação é tão clara. Temos, por exemplo, relatados na literatura científica e vivenciados em minha prática clínica, gagueiras neurológicas que se confundem com gagueiras psíquicas e que necessitam de um mergulho mais profundo para diferenciá-los, o que só vai ser possível então, no decorrer da terapia, impossibilitando o diagnóstico inicial que eu considero necessário. O mesmo pode ocorrer entre gagueira do desenvolvimento e taquifemia.

De qualquer modo, ter um ponto de partida para iniciar sua terapia é básico. Ao mesmo tempo, você deve se manter alerta para rever sua posição sempre que surjam novos dados.



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