TRANSFORMAÇÕES NA PSICOMOTRICIDADE
Monografia de conclusão do curso de especialização em Sócio-Psicomotricidade Ramain-Thiers - Eliana Maria Nigro Rocha -São Paulo - 1998
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem o intuito de acompanhar as transformações que foram ocorrendo no campo da Psicomotricidade: procura esboçar sua origem e as diversas etapas pelas quais passou.
O que me impulsionou a este estudo foi uma necessidade pessoal de organização dos inúmeros dados que fui obtendo durante minha formação como psicomotricista e o desejo de poder me posicionar frente às várias vertentes da Psicomotricidade.
Minha formação de base é a Fonoaudiologia e meu primeiro contacto com a Psicomotricidade se deu através do método Ramain entre 1980 e 1983. Ramain é um método psicomotor criado na França por Simonne Ramain, e na época, era aplicado em nosso país por Solange Thiers, coordenadora Ramain do Brasil.
Cabe aqui citar Marina, terapeuta ocupacional, colega de estudo no Método Ramain. Logo após o início de nossa formação ela relatou que havia buscado Ramain como um trabalho em Motricidade e que depois constatou que era Psicomotricidade e que só naquele momento entendia que era PSICOmotricidade. Recentemente encontrei em Le Camus (1984, p. 63) uma idéia semelhante ao se referir à evolução da Psicomotricidade, mas como a colocação de Marina é do início de nossa formação, ou seja, 1980, mantenho a referência a ela como autora da frase, que sintetiza adequadamente a vivência efetuada naquele momento.
Encerrada a formação Ramain continuei a atuar como fonoaudióloga, introduzindo em minhas terapias a "filosofia" que havia assimilado: mantinha minha atenção voltada ao processo de emergência de uma habilidade e não mais à aquisição mecânica da mesma, valorizava mais os aspectos corporais, percebendo sua interferência na possibilidade de atenção e evolução do paciente e tinha consciência da necessidade de considerar o emocional que sempre estava presente. Com alguns pacientes tive a possibilidade de atuar como psicomotricista, utilizando não apenas o que denominei "filosofia" do Ramain, mas também seu método psicomotor.
Muitas leituras, desencontradas, foram sendo feitas neste período: Le Boulch, Pierre Vayer, Boucher, Pick, Costallat, Coste, Lapierre, Alexander, Feldenkrais e outros. Eu não percebia como articular suas diferentes posturas, suas propostas diversificadas.
Em agosto de 1996 iniciei minha formação em Sócio-Psicomotricidade Ramain-Thiers, que considero como uma reconstrução do método Ramain, efetuada por Solange Thiers. Vejo esta reconstrução como se uma antiga mansão fosse demolida e em seu lugar fosse erigido novo edifício, que aproveita algumas das fundações anteriores, mas fortalece-as com o embasamento teórico da Psicanálise e recria as divisões ambientais internas, tornando o local mais amplo, mais claro e mais funcional; introduz a preocupação com o aspecto social, com a integração do indivíduo à sociedade a qual pertence.
Em meio à toda aquisição e enriquecimento pessoal obtido nesta nova formação, ficou difícil decidir o que fazer com meus conhecimentos e atuações anteriores. Jogá-los fora como sapatos rotos, que haviam me permitido longas excursões, mas que haviam se tornado inúteis? Considerá-los meios válidos só para determinados pacientes que necessitassem de minha atuação mais enfocada para aspectos específicos de suas dificuldades? Ou então fazer uso deles em meu trabalho em instituição pública, onde os recursos e o tempo são escassos frente ao número sempre crescente de pacientes e reservar Ramain-Thiers para a terapia privilegiada do consultório particular?
Decidi-me pela integração.
Este trabalho tem como objetivo percorrer o trajeto efetuado pela Psicomotricidade em sua transformação até chegar a uma abordagem como a Sócio-Psicomotricidade Ramain-Thiers. Refazendo este caminho, refiz meu caminho pessoal neste estudo e pude fortalecer a síntese que norteia minha atuação atual como psicomotricista e mais especificamente como terapeuta de indivíduos cuja queixa é gagueira.
É um trabalho modesto, composto de dados obtidos com apenas cinco autores, nos quais busquei exclusivamente os tópicos que me impulsionavam à esta pesquisa, sem almejar poder abarcá-los de modo mais amplo. Mas é um trabalho que me satisfez muito, que me deu grande prazer ao poder integrar conhecimentos que andavam tão desarvorados, organizando-os e assimilando-os aos novos dados obtidos neste estudo.
I - SURGIMENTO E TRANSFORMAÇÃO DA PSICOMOTRICIDADE
1. Enfoque "filosófico"
Na perspectiva de Levin (1991,p.21) podemos falar de uma pré-história da Psicomotricidade, que se inicia a partir do momento que o homem fala, porque então passa a poder falar de seu corpo. Com a evolução do tempo, as concepções a respeito desse corpo vão se modificando.
A questão corpo/alma já se encontra presente no próprio surgimento de uma percepção que trouxe a necessidade de existência destes vocábulos, e então temos "corpo" do latim "corpus" que é definido como "a substância física, ou a estrutura de cada homem ou animal" e "alma" do latim "anima" significando "essência imaterial do ser humano, espírito". (Cunha, 1982)
As relações entre corpo e alma foram vistas de modos diferentes. Nos espetáculos gregos teremos a vivência "de transformar o seu corpo em órgão do espírito" e em Platão a visão do corpo como morada da "alma imortal". (Levin, p. 22)
É no século XVII que esta dicotomia corpo/alma é acentuada - e não criada, como costuma ser difundido - por René Descartes, que ao mesmo tempo em que diferencia o corpo que não pensa, da alma "pensante", também se refere à estreita e indissolúvel união corpo/alma, que compõe um todo. É importante frisar que Descartes se referia à alma, num sentido religioso, e não à mente.
2. Enfoque neurológico e psiquiátrico
Diferentemente da Filosofia, a Neurologia vai se dedicar à relação corpo/cérebro, inicialmente correspondendo cada sintoma corporal a uma lesão focal e depois - já no século XIX - constatando que as disfunções corporais podem ocorrer na ausência de lesões cerebrais claramente localizadas. É então (1870) que surge o termo Psicomotricidade, pela necessidade da Neurologia de nomear determinadas zonas do córtex cerebral que se situam "mais além das regiões ’motoras'" (Levin, p.21) e que expliquem certos fenômenos clínicos. Em 1900, Tissié passa a utilizar o qualificativo "psicomotor" referindo-se às relações entre pensamento e movimento. (Le Camus,1984, p.24)
Le Boulch (1981,p.20) cita a Psiquiatria como tendo um papel importante no surgimento da Psicomotricidade ao evidenciar "que em certos casos, o tratamento das enfermidades chamadas `mentais' passava pela ação sobre o corpo e seus movimentos".
No século XX a Psicomotricidade se institui como prática independente, separando-se gradativamente da Neuropsicopatologia do movimento. Dupré, neurologista francês, tem destaque nesse evento, ao definir em 1909, a síndrome da debilidade motora e ao romper com a idéia de correspondência biunívoca entre localização neurológica e perturbações motoras da criança.
É Dupré também quem vai abordar a questão cognição/ motricidade, inicialmente associando debilidade motora e debilidade mental, mas depois podendo desvinculá-las e estabelecer diferenças entre elas, constatando que é possível ter dificuldades motoras sem ter alterações intelectuais e vice-versa. Segundo Le Boulch (p.21) é desta associação inicial entre as duas questões que surgiu o termo "debilidade psicomotora" que substituiu o anterior "debilidade motora".
3. Enfoque psicológico
O advento da Psicanálise não passou despercebido para a Psicomotricidade. Freud, Klein, Winnicot, Schilder, Reich, Lacan, Mannoni, Dolto, Samí Alí e outros são citados por Levin como influenciando a prática psicomotora, levando a uma nova concepção do corpo.
"O ego é antes de tudo um ego corporal" é afirmado por Freud em 1923.
Piaget também tem sua influência registrada em algumas abordagens psicomotoras, e o mesmo se pode dizer de Skinner, cada um deles trazendo contribuições diversas, de onde advêm novos modos de intervir nesses distúrbios, como veremos mais adiante.
Os autores citados acima realizaram seus trabalhos em suas áreas de atuação e foram assimilados por alguns estudiosos da Psicomotricidade; no entanto outros se voltaram mais diretamente à questão psicomotora.
Henry Wallon, em 1925, define o movimento como instrumento da construção do psiquismo e associa-o ao afeto, à emoção e ao meio ambiente.
Spitz e Winnicot (1978) enfatizam a importância do afeto na evolução infantil.
Em 1977 Samí Alí produz o esboço de uma teoria psicanalítica da Psicomotricidade.
Le Boulch (p.21) vê as crianças com distúrbios motores como apresentando uma "situação afetiva particular", "uma imaturidade afetiva que às vezes é a causa principal dos transtornos instrumentais, sendo estes apenas sintomas."
Le Camus (p.63) refere-se ao "irresistível deslizamento do pólo motor ao pólo psíquico" que ocorre dentro das abordagens psicomotoras.
Thiers (1988, p.3) cita ter sido "acusada" de transformar o Ramain, que chegou ao Brasil como método pedagógico, em um processo de terapia de natureza emocional, mas acredita que esta já era a prática de Simonne Ramain, criadora do método. No entanto, afirma que a perspectiva emocional no Ramain é uma contribuição brasileira (1988, p.11). Acredito que se trata de uma referência à prática de Simonne Ramain em relação ao embasamento teórico que foi sendo construído no Brasil, aliado a uma nova prática que foi criada.
Levin é, entre os autores por mim investigados, aquele que abraça os conceitos psicanalíticos de modo mais exclusivo, buscando neles um novo modo de atuação em face aos desvios psicomotores.
4. Enfoque social
Na sequência de sínteses que foram sendo feitas nas transformações da Psicomotricidade, o corpo foi integrado à mente e ao psíquico. Mas faltava ainda uma síntese que veio a ser feita por Thiers.
Thiers (1988) atribui a Simonne Ramain a prática terapêutica com pessoas com problemas emocionais e sociais, mas tem ciência de que o método Ramain teve seu embasamento teórico realizado no Brasil, após o rompimento com a França, decorrente de desentendimentos surgidos posteriormente ao falecimento de Simonne Ramain. A partir de então foi se delineando de modo cada vez mais claro o que viria a ser a Sócio-Psicomotricidade Ramain-Thiers. Assim, surge o que considero uma nova transformação na Psicomotricidade, ou seja, a integração do enfoque social aos enfoques anteriores.
II - ANTECEDENTES DA PSICOMOTRICIDADE
No final do século XIX e início do século XX o enfoque empírico-positivista tinha o seu apogeu e a Neuropsiquiatria em sua necessidade de promover a "cura" de distúrbios que desconhecia, seccionou o indivíduo em suas dificuldades: motoras, de linguagem e de aprendizagem, com suas terapias específicas: a Fisioterapia, a Ortofonia e Logopedia, e a Pedagogia Especial que futuramente dariam origem à Psicomotricidade, à Fonoaudiologia e à Psicopedagogia. (Conf. Levin, p.22-24)
Enfocando mais diretamente as modificações ocorridas no campo psicomotor, Levin (p.34) coloca como seu primeiro antecessor a Ginástica Terapêutica. Esta objetivava uma postura correta, a harmonia corpo-alma e para tal propõe exercícios, aparelhos e castigos corporais para favorecer um bom posicionamento, que era associado à retidão moral. Cita como exemplo, Shreber por volta de 1850 e 1860. O segundo antecessor seria a Psicodinâmica de Philippe Tissié, no início do século XX, que propõe a educação pelo movimento, que foi posteriormente retomada por Le Boulch.
Le Camus (p.24 e 25) considera Tissié o precursor dos psicomotricistas atuais por ter-se oposto, na França, à ginástica, propondo que fossem consideradas as relações entre pensamento e movimento, quando então surge a disciplina que será denominada Educação Física.
III - HISTÓRICO DA PSICOMOTRICIDADE
Le Boulch, Le Camus, Levin e Thiers consideram as transformações ocorridas na Psicomotricidade, desde sua origem até a atualidade. Cada um deles as vê de modo particular, mas parece-me possível traçar um paralelo entre as diversas colocações, o que será feito mais adiante. Inicialmente gostaria de sintetizar de modo rápido a visão de cada um deles.
Le Boulch analisa o caminho percorrido em direção à Educação Psicomotora, sua área principal de estudo, mas não deixa de se colocar a respeito das demais abordagens existentes.
Le Camus (p.11) propõe-se enfocar o quadro evolutivo "além da aprovação (às vezes ingênua) dos partidários e da recusa (às vezes sectária) dos adversários." Sua explanação me parece de fato a mais ampla e imparcial, destacando inclusive a existência de "contra-ofensiva" relacionada às mudanças ocorridas e criticando de modo objetivo e prático algumas abordagens. Assim, é dele (e de Thiers, 1988) que surge claramente a idéia de que as transformações dentro da Psicomotricidade não se fizeram de modo simples e harmônico, mas que sérias resistências ocorreram e continuam ocorrendo. É importante destacar sua visão sobre a "bipolarização teoria-prática" e "bipartição de tarefas", ou seja, a existência de uma teoria psicomotora efetuada por filósofos, psicólogos, neurologistas, psiquiatras e uma prática psicomotora criada por educadores e terapeutas. A partir desta constatação cita as várias duplas funcionais que se formaram na história da Psicomotricidade, unindo teóricos e práticos, como por exemplo, Wallon e Guilmain nos anos 30. (Conf. Le Camus, p.10 e 14).
Dentre os autores consultados por mim, Le Camus é o único cujo objetivo primordial é de rever as transformações pelas quais a Psicomotricidade passou, os demais autores tem como meta principal explanar suas posições terapêuticas.
Levin define três cortes epistemológicos na evolução da Psicomotricidade, que são vistos por ele como "passagens lógicas e não cronológicas" (p.32), alertando que é em dependência da concepção que se possui sobre o sujeito que se dará a prática clínica. Assim, esclarece-se a coexistência das diferentes abordagens psicomotoras, ou seja, constata-se que as datas a que me referirei a seguir importam em novas visões que surgem, não significando uma nova era para todos os estudiosos e práticos da área e nem mesmo uma sincronia de pensamento entre os psicomotricistas atuais.
Thiers não se propõe a fazer uma revisão histórica da Psicomotricidade como um todo. Sua colocação se refere mais diretamente à transformação ocorrida desde a abordagem Ramain até a Sócio-Psicomotricidade Ramain-Thiers. Destaca-se nas suas colocações sua valorização de todos os envolvidos na construção desta nova maneira de enfocar o indivíduo, o que não consegue ocultar o bem-sucedido esforço realizado por ela para levar em frente suas convicções. Suas referências constantes à Simonne Ramain fazem lembrar as "duplas funcionais" denominadas por Le Camus; no entanto Thiers não tem apenas o papel referente aos aspectos teóricos desta abordagem, tendo criado também uma nova prática a partir do método anterior.
Podemos agrupar as transformações ocorridas na Psicomotricidade em quatro momentos.
1. Primeiro Momento
Após Dupré ter definido a debilidade psicomotora, temos o teste de Ozeretsky em 1921 (conf. Levin, p. 37), e Gourevitch e Ozeretsky em 1930, que baseando-se nos trabalhos de Kretschemer, estudam as constituições psicomotoras (conf. Le Boulch, p.20).
Muitos estudos foram realizados para a detecção e análise dos déficits psicomotores. Le Boulch ( p.21) cita:
- testes de performance: bateria de Walter, testes de Heuyer-Bailler, etc
- testes visando determinar uma idade motora, como o teste de Ozeretski, retomado por Guilmain e mais recentemente por Vayer.
- testes destinados a seguir a evolução do esquema corporal, como o teste de imitação de gestos de Bergés e Irène Lézine.
Le Boulch ainda se refere aos testes que já não buscam analisar dificuldades específicas, mas sim o conjunto de transtornos, visando definir o perfil psicomotor e destaca, por sua praticidade, o teste de Pick e Vayer. A idéia subjacente é de que, utilizando técnicas direcionadas, a reeducação psicomotora permite corrigir os distúrbios detectados pelos testes.
A prática psicomotora se inicia com Edouard Guilmain em 1935 que idealiza um exame psicomotor, a partir de revisões dos testes de Ozeretsky e cria técnicas de reeducação psicomotora, constituída por exercícios que levam em consideração o caráter da criança. Huguette Bucher também cria seu método de reeducação visando desenvolver as diferentes posições e deslocamentos do corpo. Na Argentina, D.M. Costallat coloca planos específicos de reeducação de acordo com a idade motora e o aspecto deficitário; inclui em sua abordagem a necessidade da demanda de "um esforço de atenção que ponha o psiquismo em jogo, constituindo assim, um verdadeiro método de ortopedia mental". (Conf. Levin, p 26, 38 e 39.)
Para Le Camus (p.64) os seguidores de Guilmain ainda se assemelhavam muito aos professores de Educação Física, apenas dando um destaque maior à ginástica de formação sobre a ginástica de aplicação.
Le Camus (p.29 e 67) considera este primeiro momento da Psicomotricidade como o paralelismo científico que surge como uma reação de defesa ao dualismo platônico, augustiniano e cartesiano. O corpo é colocado ao lado da mente, embora não sejam vistos de modo integrado, pois como paralelas, seguem lado a lado, mas não se encontram. É "o corpo hábil" ou corpus habilis que se diferencia da visão anterior de corpo máquina ou corpo instrumento. Neste período Le Camus situa T. Ribot, P. Janet e P. Tissié, H. Wallon e E. Guilmain (segundo sua visão de duplas funcionais).
Levin (p.30) reconhece este período como o primeiro corte epistemológico da Psicomotricidade e, como Le Boulch, denomina-o "reeducação psicomotora" que se baseia no paralelismo mental-motor, ou seja, que procura superar o dualismo corpo/mente, embora aborde apenas o aspecto motor. Frisa que a Neuropsiquiatria tem um peso muito grande nesta visão do corpo como um instrumento a ser consertado, “(...) e à medida que isto é feito, melhoram 'paralelamente' (doutrina do paralelismo mental-motor) a inteligência e o caráter..." (Levin, 1991, p. 41)
Ramain talvez não devesse ser citada neste momento, uma vez que seu método foi inicialmente definido como método pedagógico e segundo Thiers (1988, p.7) foi só em 1973 que o Grupo A do Rio de Janeiro mostrou a Simonne Ramain que seu método era Psicomotricidade. Mas a autocrítica que Ramain realiza em 1964 em seu artigo, demonstra que neste momento sua visão terapêutica estava de acordo com a época. Assim, ela utilizava técnicas que propunham exercícios com resultados a serem atingidos, realizando uma espécie de treinamento, não deixando espaço para a experiência pessoal. (p.2)
Resumindo, temos então neste primeiro momento uma influência médica muito forte na Psicomotricidade, que busca resolver dificuldades motoras, ciente da interferência do aspecto "mental" nestas, mas que em suas avaliações e reeducações aborda apenas o corpo. Encontramos dentro deste período um refinamento gradativo, um conhecimento cada vez maior do que eram afinal estes distúrbios psicomotores e até um esboço de abordagem mais direcionada à dificuldade do indivíduo e à sua idade cronológica. Quanto aos autores pesquisados por mim, encontro uma grande semelhança de enfoque, com colocações que se completam e se reafirmam mutuamente.
2. Segundo Momento
Ajuriaguerra coloca que os transtornos psicomotores oscilam entre o neurológico e o psiquiátrico: é uma nova visão, a da interferência do aspecto emocional. Junto com Diatkine, Ajuriaguerra dá uma nova definição à debilidade motora, considerando-a educável e não-orgânica.
Le Camus (p.64) localiza a primeira modificação no enfoque psicomotor entre 1947 e 1960, que ele denomina "primeiro deslizamento" do aspecto motor ao aspecto psíquico:
"... quando G. Soubiran, em consonância com S. Ramain, P. Mazo, M. Vyl, etc.
concebeu, além do 'exame tipo' e da 'sessão tipo', programas diferenciados em
função das categorias de distúrbios e acentuou mais o trabalho do aspecto qualitativo
da motricidade (...) o que se quer melhorar é a inteligência do movimento..."
É esta, segundo Le Camus, a reação de defesa contra os racionalistas dos séculos XVIII e XIX, que é efetuada com a influência de M. Merleau-Ponty, de J. Piaget, de S. Freud, de J. de Ajuriaguerra: é o corpo consciente, o pensamento feito corpo" (Le Camus, p.67) . É o corpus sapiens.
Le Camus (p.31- 33) refere-se ainda à influência da Gestalt e do conceito de esquema postural de Head, retomado por Schilder que realiza uma síntese entre a visão neurológica de Head e a visão psicanalítica de Freud, integrando aspectos motores, perceptivos, sexuais e afetivos no que denominou "imagem do corpo" ou "esquema corporal". Destaca Merleau-Ponty e sua obra "Fenomenologia da Percepção" considerando-a "o último ato de condenação do dualismo" e citando um trecho que resume esta idéia "Eu não estou diante de meu corpo, estou em meu corpo, ou melhor, eu sou meu corpo."
Le Camus (p.34 e 37) coloca também neste segundo momento, Buytendjik (que "não estuda movimentos e sim homens que se movem" e que afirma que "o movimento pertence à unidade psicofísica humana"), e Wallon, para quem o esquema corporal é uma construção, resultado das relações do indivíduo e seu meio. Mas é Ajuriaguerra quem Le Camus considera o mais influente junto aos psicomotricistas (p.38 - 39) com suas colocações de que "o estado tônico é um modo de relação" e de que "a função postural está essencialmente vinculada à emoção, isto é, à exteriorização da afetividade." Piaget também merece destaque (p.40) com sua visão de que o movimento é a manifestação do psiquismo, e, portanto, da inteligência.
Para Le Boulch este período é denominado terapia psicomotora, e constitui a modificação da abordagem técnica ou reeducação psicomotora sob a influência da Psicanálise. Cita como seus representantes na França: Mazzo, Degh e Diamant.
Le Boulch coloca que uma abordagem técnica que não valorize o aspecto emocional pode dar resultados satisfatórios caso a perturbação emocional não seja muito profunda, mas que o mais frequente é que o paciente apresente uma séria perturbação emocional e que a abordagem técnica faça - segundo estudo de Arlette Bourcier - com que o sintoma desapareça para ser substituído por outro, ou que o sintoma seja reforçado ou mesmo se cronifique.(Conf. Le Boulch, p 21)
Embora ciente da importância dos problemas afetivos na abordagem psicomotora, Le Boulch (p.22) não aceita a visão da Psicanálise de que, resolvendo as dificuldades emocionais, os problemas funcionais desapareçam, pois mesmo que o ponto de partida de uma dificuldade psicomotora seja essencialmente afetivo, os transtornos funcionais decorrentes originam "tal interação entre o afetivo e o funcional que só uma concepção mista terá chances de sucesso".
Le Boulch cita as terapias comportamentais que surgiram para responder ao fracasso das terapias psicodinâmicas de orientação psicanalítica. Refere-se à visão de Skinner de que é mais importante saber o que mantém um comportamento na atualidade, que saber como este comportamento foi adquirido no passado. Assim, para Skinner, a tarefa do terapeuta consiste em identificar fatores que mantém um comportamento inadaptado, para modificar o meio e produzir uma modificação do comportamento. O terapeuta não busca o retorno a uma situação afetiva do tipo dual (transferência), mas dirige-se a outros aspectos importantes do meio. Vejo esta proposta skineriana como uma volta ao enfoque que denominei primeiro momento.
Frente a estas duas concepções tão diversas entre si, Le Boulch ( p.23 e 24) defende que a Psicomotricidade deve ter sua própria identidade e não relacionar necessariamente sua metodologia a uma ou outra corrente.
Para Levin (p.31) este é o segundo corte epistemológico e utiliza a mesma denominação de Le Boulch: "terapia psicomotora", especificando que aqui já não se aborda apenas o aspecto motor, mas o corpo em movimento, ciente da importância deste na construção da realidade e no seu relacionamento com as emoções. A influência dominante é da Psicologia - principalmente a Psicologia Genética - e o corpo é então visto em três dimensões: instrumental, cognitiva e tônico-emocional
Levin (p.27 e 28) situa este momento na década de 70, quando a Psicomotricidade passa a ser definida como uma "motricidade em relação" e cita como pertencendo a este período J. Bergès, Diatkine, Jolivet, Launay e Lebovici. Cita ainda Lapierre e Aucouturier. Refere uma despreocupação com a técnica e a busca de uma visão do corpo em sua globalidade, quando é dada maior importância à afetividade e ao emocional, com embasamento - embora de modo fragmentado - na Psicanálise em autores como Freud, Klein, Winnicot, Schilder, Reich, Lacan, Mannoni, Dolto, Samí Alí e outros.
Conforme citado anteriormente, Le Camus coloca Ramain como um programa diferenciado que acentua o aspecto qualitativo da motricidade.
É exatamente o que se deduz das colocações realizadas por Simonne Ramain em artigo de 1964. Ela define, então, sua nova abordagem, na qual busca "descobrir a elasticidade da personalidade profunda" (p. 3) através de exercícios que não se repetem, que não são refeitos e que propõem sempre uma situação nova que o indivíduo deve enfrentar sozinho. Estes exercícios incluem a educação dos gestos e das atitudes físicas que "criam a disponibilidade e facilitam o controle e o domínio de si." (p. 9)
O papel do educador não é o de dar a resposta, mesmo porque o resultado correto não é o mais importante, o que importa é a maneira de agir, a auto-observação e o autodomínio durante a execução dos exercícios. O educador "deve permitir que cada um se veja e se aceite tal como é." (p. 4)
Ramain refere-se ainda aos "conselhos dados por ocasião das conclusões" (p.11), que demonstra a preocupação em realizar um trabalho global, conforme define Thiers:
"Inicialmente, o Ramain propunha um trabalho global do indivíduo. Era, porém
uma terapia pré-verbal: as pessoas vivenciavam a técnica, exprimiam suas vivências,
só que as devolutivas não tinham a preocupação de integrar os conteúdos inconscientes
que emergiam da proposta. Acreditava-se que o Ramain, por si só, fizesse a terapia ..."
(Thiers, 1994, p.XVII)
Assim, constatamos a entrada do emocional neste segundo momento, denominado terapia psicomotora por Levin e Le Boulch. Se anteriormente havia um "paralelismo" entre corpo e mente, agora começa a surgir uma síntese que considera a interferência das emoções, revendo o conceito de distúrbio psicomotor e denominando-o "sintoma". Muito mais do que no primeiro momento, o indivíduo é levado em consideração e o objetivo é que ele possa viver sua individualidade.
3. Terceiro Momento
É de modo nostálgico que Le Boulch se refere a este novo estágio da Psicomotricidade:
"A corrente de educação psicomotora pouco a pouco tem se diluído, quase
desaparecendo. Dois de seus principais representantes, Lapierre e Aucouturier
(...) tem optado pela ação terapêutica. Pierre Vayer (...) parece estar também
desinteressado pela educação psicomotora para continuar sua pesquisa no sentido
de uma concepção psicoeducativa mais geral. (Le Boulch, p. 26)"
Entende-se a nostalgia de Le Boulch. Ele manteve uma postura de defesa ao que denomina "educação psicomotora", enquanto os estudiosos que compartilhavam suas idéias partiram em direção a outros rumos.
A corrente educativa em Psicomotricidade, surgiu de transformações a partir da Educação Física quando esta passou a ser vista como uma abordagem que colocava a atividade corporal em paralelo à mental, sem permitir uma unidade, como já citado anteriormente. Sua prática foi criada por professores de Educação Física e tem como destinatário indivíduos de todos os tipos, tendo sua aplicação acentuada na pré-escola e escola elementar.
Le Camus (p.48 e 49) considera este momento a terceira fase da evolução da Psicomotricidade, quando o corpo deixa de ser visto como mudo e passa a ser percebido como um corpo que fala "através dos sintomas que testemunham sua inserção numa história singular". É o que ele define como "semio-motricidade, a motricidade emissora de informação." (p.58) É também o corpo consciente, corpus loquens, o corpo que fala.( p. 67)
Ocorre uma busca de fortalecimento das bases teóricas, que já não se centrará exclusivamente na Neurofisiologia e nos psicólogos do desenvolvimento, mas cada vez mais incluirá a Psicanálise (freudiana ou reichiana), a Psicologia das Comunicações Não Verbais e a Etologia. Dentro da influência da Psicanálise Freudiana, Le Camus coloca uma citação de Sami-Ali que define bem este novo enfoque: "Damo-nos conta de que, paradoxalmente, o que ocorre no corpo (sintoma neurótico ou atual) não ocorre no corpo, mas numa relação implícita com o outro." (p.52). Já a Psicanálise Reichiana teria deixado como legado à Psicomotricidade a consciência da importância do aqui-agora e de ouvir o corpo.
Desta influência psicanalítica tem-se como consequência uma nova abordagem psicomotora, na qual o terapeuta se dispõe a ouvir, compreender e auxiliar seu paciente e não mais a testá-lo e reeducá-lo.
Para Levin (p. 31) este é o terceiro corte epistemológico no qual se encontra a "clínica psicomotora” (...) "que já não centra o seu olhar num corpo em movimento, mas num sujeito com seu corpo em movimento", sujeito que é constituído por um corpo real, um corpo imaginário e um corpo simbólico. Assim, a terapia já não é composta por objetivos e técnicas, mas é "centrada no corpo de um sujeito desejante". A teoria psicanalítica, numa leitura lacaniana, dá embasamento a esta visão, com a inclusão do inconsciente e da transferência na relação terapêutica.
Thiers em sua monografia de abril de 1983 faz colocações sobre o método Ramain que, em meu entender, o definem como pertencendo a este terceiro momento de evolução da Psicomotricidade. É o método Ramain já em suas transformações iniciais em direção à Sócio-Psicomotricidade Ramain-Thiers:
"Trabalhamos o corpo que é a base de nosso processo e, em analogia, a corporalidade
é trabalhada através do papel quadriculado que simboliza as pulsões de vida e morte,
na dinâmica de cortes em planos longitudinais e transversais, que nos trazem no ponto,
o equilíbrio entre corpo-mente-psiquê... (Thiers, 1995, p. 58)"
No terceiro momento o enfoque psicológico, que já se encontrava presente no momento anterior, direciona-se principalmente para a Psicanálise. O corpo passa a ter um novo status: de comunicação do interno do indivíduo com o externo que o circunda, e esse interno se refere às pulsões, aos desejos, ao inconsciente.
4. Quarto Momento
Le Boulch e Levin encerram seu relato sobre a evolução da Psicomotricidade no terceiro momento. No entanto, achei necessário colocar um novo momento que encampasse o aspecto social que a Sócio-Psicomotricidade Ramain-Thiers possui, e que explana em diversos trechos:
(...) porque o mais importante é o despertar do viver coletivamente, do ser
responsável por sua própria ação, do despertar de sua consciência social pela
possibilidade da integração corpo-mente-sociedade. (1994, p. 27)
Foi a compreensão de um sujeito uno: corpo, mente, ação e sociedade, o
que nos permitiu a abrangência de um trabalho mais global. (1994, p. XVIII)
Ramain-Thiers visa à compreensão do sujeito psíquico, que engloba o sujeito
social, seu aprendizado de vida em coletividade, o respeito a si próprio, ao outro.
Para Ramain-Thiers é impossível conceber o sujeito fora de sua sociedade...
(1994, p. XIX)
A concepção sócio-psicanalítica do RAMAIN-THIERS é que a Psicomotricidade
vivida no contexto sócio-grupal deve ser compreendida não só pelas intersecções
cognitivas, emocionais ou psicomotoras, mas também pela integração destas com
o social, para que o sujeito se insira melhor na cultura. (1994, p. XIX)
Le Camus (p.53) cita entre as influências da Psicologia das Comunicações Não Verbais na Psicomotricidade, a de Parlebas, que efetuou publicações e conferências sobre a sociomotricidade, baseado em estudos da Psicologia Social. Mas a repercussão de suas colocações se deu principalmente entre professores de Educação Física, pouco afetando a Psicomotricidade. Assim, entendo que o aspecto social efetivamente fica circunscrito à Sócio-Psicomotricidade Ramain-Thiers, e que vem completar a visão que se pode ter do indivíduo, tornando-a total.
Considero essencial citar como característica que incluo neste quarto momento, o "fazer" que advém do método Ramain e dos denominados "métodos ativos", e permanece na Sócio-Psicomotricidade Ramain-Thiers, ressaltadas suas propostas originais e sua leitura psicanalítica, seu trabalho efetivado na transferência vertical (com o terapeuta), horizontal (com o grupo de terapia) e transversal (aspectos sociais):
O indivíduo sente-se produtivo porque passa pelo "fazer", pela expressão
motora, que é a ação, onde tem a oportunidade de reparar as questões danificadas,
não só no seu trabalho prático, mas também na sua vida pessoal, tendo seu próprio
corpo como referência de vida, um corpo que sentindo e vivendo descobre formas
alternativas de crescer, amadurecer, ser adulto, ser produtivo, ser social! (Thiers,
1994, p. XIX)
Temos então neste quarto momento, da junção dos enfoques citados anteriormente, com os agora descritos, como enfoque social e como enfoque de atuação, a visão de um corpo que não é trabalhado exclusivamente para o bem-estar do indivíduo, mas para que esteja existindo na sociedade na qual se insere, de modo a transformar o bem-estar que poderia ser meramente narcísico na satisfação profunda de "fazer parte de", de atuar, de intervir, de estar totalmente presente.
CONCLUSÃO
A visão histórica das transformações da Psicomotricidade deixa claro o curioso processo que ocorreu nesta área de estudo: conforme a percepção dos estudiosos se aguça, múltiplas análises, cisões e classificações foram sendo realizadas, posteriormente passaram a ocorrer sínteses, integrações. Neste fascinante jogo de análise-síntese foi se delineando o crescimento que se deu na visão do sujeito em relação ao seu corpo. Corpo que já foi pura carne, que encampou a mente, associou o psiquismo e se projetou na sociedade, com inteireza total.
A sensação durante a realização desta monografia foi a de estar armando um quebra-cabeça de inúmeras peças. Algumas eu já possuía há muito, mas não sabia a que espaço elas pertenciam. Outras peças foram sendo encontradas nas leituras efetuadas para esta tarefa. Foi extremamente prazeroso vivenciar o "quebra-cabeça" tomando forma, encaixar idéias e autores, sentindo que uma nova visão surgia para mim, seja a respeito das antigas abordagens e da contribuição que elas trouxeram para a minha atual percepção, seja da Sócio-Psicomotricidade Ramain-Thiers que se reafirmou como a abordagem escolhida por mim.
A formação e vivência pessoal na Sócio-Psicomotricidade Ramain-Thiers veio transformar em possibilidade um antigo sonho meu - que cheguei a considerar busca de onipotência - de integrar numa só atuação todas as abordagens terapêuticas de que um indivíduo necessita, sem precisar facetá-lo como fazem as ciências quando se propõem a estudar uma matéria.
Há muito venho atuando de modo mais específico com indivíduos cuja queixa é gagueira: indivíduos que foram cindidos de todos os modos possíveis. Cindidos antes mesmo de buscarem terapia, pois sua fala já denuncia a cisão, a dificuldade de se manter inteiro, de expressar suas percepções, suas idéias, sentimentos. Cindidos na própria terapia - que embora afirme interagir com ele de modo global - aborda sua tensão, sua articulação, seu modo de utilizar a fala em diversas situações; ou então aborda seus conflitos internos e externos, ouve e responde às suas angústias; ou mesmo, minimiza as dificuldades presentes e as considera artefatos do meio social.
Há muito venho colocando aos colegas de estudo de gagueira que necessitamos realizar a integração dos nossos pontos de vista. Em 1989 apresentei na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como requisito à obtenção do título de mestre em Linguística Aplicada, a monografia "As rupturas na fala da criança 'fluente' e da criança 'disfluente'". Nesta monografia faço uma abordagem Psicolinguística da disfluência, ou seja, observo a disfluência sob um prisma específico, mas encerro meu trabalho referindo-me à parábola dos "Seis cegos e o elefante", já utilizada por Johnson (1958) anteriormente, com intuito semelhante.
Esta parábola, tão popular, refere-se às percepções de seis cegos que pela primeira vez se deparam com um elefante. Cada um deles toca uma região diferente do animal e obviamente obtém impressões totalmente diversas sobre ele. Assim, discordam veementemente das opiniões dos outros, achando inadequadas e até absurdas suas deduções.
Absurdo é não entendermos que facetamos os tópicos para estudá-los melhor, mas que o indivíduo precisa ser visualizado em sua totalidade, deve ser integrado.
Um paciente olhado através da Sócio-Psicomotricidade Ramain-Thiers poderá vivenciar a sensação de unicidade, de ser visto como ser total, de estar numa verdadeira e profunda relação com alguém que se dispõe a caminhar com ele por caminhos evitados, por becos desconhecidos e misteriosos, ou vielas e atalhos que eram considerados inexistentes. A meta final é a da redescoberta e afirmação do caminho único, particular a cada um.
Foi uma jornada muito rica realizar este trabalho. Todas as pequenas e inúmeras conclusões a que fui chegando durante a execução desta monografia já foram explicitadas, seja no modo como agrupei as idéias, seja na escolha das citações que efetuei, seja na relevância e na ênfase que dei a um ou outro aspecto.
Considero válidas e coerentes todas as diversas vertentes da Psicomotricidade em suas transformações. Assim, ratifico a importância da Educação Física, da Reeducação Psicomotora, da Educação Psicomotora, da Terapia Psicomotora e também, nos termos de Levin, da Clínica Psicomotora. Cada uma delas tem seu alcance próprio e específico, cabe ao terapeuta ou ao educador em questão avaliar sua própria formação, seu cabedal de conhecimentos e as necessidades, desejos e/ou limitações de seu paciente ou aluno.
A conclusão final é a da minha adesão à Sócio-Psicomotricidade Ramain-Thiers, considerando-a a verdadeira resposta aos meus anseios de integração da abordagem terapêutica, que pode encampar corpo / mente / emoção / relacionamento social e, como reflexo desta postura, propiciar a visão integrada e integrante de meu paciente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
1. CUNHA, Antônio G. Dicionário Etimológico Nova Fronteira. Rio de Janeiro. Ed. Nova Fronteira. 1982.
2. JOHNSON, Wendell. Introduction: The six men and the stuttering. In Stuttering: a Symposium, EINSENSON, Jon (ed). Harper & Row Publishers. New York and Evanston. 1958
3. LE BOULCH, Jean. O desenvolvimento Psicomotor. Do nascimento até 6 anos. Porto Alegre. Artes Médicas. 1992. Tradução do original de 1981.
4. LE CAMUS, Jean. O corpo em discussão. Da reeducação psicomotora às terapias de mediação corporal. Porto Alegre. Artes Médicas. 1986. Tradução do original de 1984
5. LEVIN, Esteban. A clínica psicomotora. O corpo na linguagem. Petrópollis. Editora Vozes. 1995. Tradução do original de 1991.
6. NIGRO-ROCHA, Eliana Maria. As rupturas na fala da criança "fluente" e da criança "disfluente". Monografia de mestrado em Linguística Aplicada.
PUC - São Paulo. 1989
7. RAMAIN, Simonne. Princípio Geral do Método Ramain. 1964 in Caderno Ramain. Material de Leitura da Terceira Etapa. Cesir.1988
8. SEVERINO, Antonio J. Metodologia do Trabalho Científico. 20a. edição. São Paulo, Cortez, 1996.
9. THIERS, Solange. Sócio-Psicomotricidade Ramain-Thiers. Uma leitura emocional, corporal e social. São Paulo. Casa do Psicólogo. 1994
10. THIERS, Solange. Monografia in Teoria e Técnica Ramain-Thiers n. 3. Rio de Janeiro. Cesir. 1995. 3a. edição.
11. THIERS, Solange. A evolução histórica do Ramain e o Brasil in Caderno Ramain. Material de Leitura da Segunda Etapa. Cesir. 1988
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